A Política é composta por Moral, é moldada pela Ética, é desenvolvida
pela Retórica mas é "morta" pela adaga gélida da Demagogia e pelo canto
de sereia - ei-la, a Oratória! - alcandorada no rochedo onde se situa a
cadeira do Poder. Cadeira revestida de ouro, pérola preciosa do sonho
imortal, que brilha nos olhos do mais incessante espírito perturbado
pela infame ambição, pronta para esmagar no seu próprio ego o narcisimo
desprovido de sensatez, mas iluminado pelo egocentrismo próprio de quem
vê as suas mãos a agarrar a mais preciosa das areias, sentindo, olhando,
vislumbrando como se escapa pelas frestas dos seus dedos.
A Política ouve o apelo doce e solitário daquela donzela escondida por
entre a névoa, aquele breu tomado por desconhecimento e mistério, a
ânsia de querer mais. Enreda-se no seu encanto, deixa-se dominar pelo
seu apelo sussurrante e ei-la, finalmente, vertida no poço profundo das
entranhas daquela donzela, a Corrupção. Redoma protectora, prisão
infernal, olha nos olhos a Política e entrega-lhe o Poder, transformado
em droga, agora apresentado como o preço pela salvação e a Luz ansiada. O
Poder corrompe a Política, e a Política torna-se aquele fantasma,
aquele sobrevivente moribundo que se arrasta, imparável no seu
descrédito, afogada na sua agonia, torturada pela sua lenta "morte". E
eis que ele surge, com tímidos passos, batendo com força com a sua
bengala e, no seu olhar negro e sangrento, declara, de forma ditadorial,
pretendendo a imortalidade - "Eis que eu cheguei: o Caos!".
A propósito disto.
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